Os Processos de Construção de Identidade em Cabo Verde: Crioulo e Língua Portuguesa | Breogán A. Martínez (USC)

Abstract:
Tal e como o resto de ex-colónias portuguesas, Cabo Verde atravessou a partir de 1975 um processo de construção de um Estado soberano que exigia a construção de um discurso identitário sobre o que deviam ser assentes muitas das bases da sua nacionalidade. Entre outras questões a serem resoltas, o papel das duas principais línguas presentes no novo país independente foi – e ainda é- causa de grande número de controvérsias. É neste contexto que o crioulo e o português deverão encontrar o seu lugar na configuração social caboverdiana.
Key Words: Cabo Verde; crioulo; identidade; lingua portuguesa

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Cabo Verde declarou a sua independência de Portugal o cinco de Julho de 1975. Hoje, quase quarenta anos depois, a sua língua oficial continua a ser a portuguesa, a pesar de que no país, “a vida decorre em Crioulo”, tal e como dizia Jorge Amado em 1986 (Veiga: 1999). Qual é o reflexo desta situação na vida cultural e na construção da identidade nacional no período pós-independente? Torna-se preciso tentar descobrir quais são as razões de Cabo Verde para os processos de (re)atribução de papéis a cada uma das línguas em jogo na sociedade do país depois de se descolonizar e quais são os funcionamentos de português e crioulo, por separado e conjuntamente, numa sociedade definida, historicamente, por uma miscigenação entre a Europa e a África. Ambas funcionam como veículo de transmissão linguística desde há séculos[1], no entanto, os valores sócio-económicos-linguísticos conferidos a cada uma delas divergem tanto hoje como no percurso da história: enquanto o português é língua oficial, de ensino e predominante na literatura escrita, o crioulo é usado nas situações comunicativas de carácter familiar e em produções culturais eminentemente orais (música ou literatura oral). Contrariamente ao que aconteceu em outros estados africanos independizados no século XX[2], o período de pós-independência não tem servido para modificar esta situação…

 


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[1]O português, necessariamente, desde o achamento do arquipélago, desabitado até então. O crioulo foi configurado, já desde um princípio, a partir do contacto entre a da metrópole e as diferentes línguas africanas dos escravos. Segundo Duarte, o (proto-)crioulo formou-se em apenas cinquenta anos, “quando os escravos vindo do Continente adoptaram o processo [de] (…) aprender uma língua estrangeira nas condições de premência que eram as das relações (…) que se estabeleceram em todas as sociedades escravocratas: utilizaram os lexemas portugueses com a sintaxe das suas próprias línguas” (Duarte, 1998, p. 37).

[2]Por exemplo: Egito, Quénia, Somália ou na África do Sul. Nestes países, embora se continue a utilizar a língua do colonizador como veículo de coesão, especialmente no ensino e nas situações mais formais, a(s) língua(s) próprias daqueles espaços foram declaradas oficiais e o seu uso promovido ou reivindicado, em maior ou menor medida.

 


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